sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda Quintana

Sem Título - Alice Soares


Algum dia na vida, todos já sentimos:
rolar por dentro pequenos pedacinhos...
aquele cristal cordial totalmente estraçalhado.
Depois da primeira lascada, a antiga intregridade
nunca mais volta e, aparentemente, essa é que dói mais.

Ficamos tão impressionados com essa dor
que tudo a nossa volta beira à insignificância.

Até o dia que finalmente ele chega aos pedacinhos...
Aí a dor começa a parecer piada!

E com a coragem renovada,
aquela de quem já pode peder mais nada,
seguimos em frente prontos pra mais uma indiada:
amar de novo, amar sempre e ainda agradecer por isso!



A RUA DOS CATAVENTOS
Mario Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror!
Voejai!Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!


Nenhum comentário: