sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Palavras de Fernando Pessoa

Às Vezes
De Poemas de Álvaro de Campos

Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...









Pobres de nós, seres açoitados pelas nossas próprias palavras,
A nós tão superiores...
Porque não fazemos delas nossas almas escravas?
Para sempre nos acreditarmos inferiores...

sábado, 20 de setembro de 2008

Saudades, amizades e solidão...


BONS AMIGOS
Machado de Assis

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amiigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

(Desculpe, precisei, não resisti em copiar teu orkut KK...)



A distância é cruel - instiga nossa mente a devaneios dolorosos, sofrimentos imaginados e dores próximas. Como não sentire-se solitário, mesmo sabendo que quem tem amigos nunca está só!?
Nas longas vigilias, sem ninguém para ouvir teu desabafo, sem um lar para chamar de teu, a idéia de solidão vira a companheira mais certa.
Nas tardes ensolaradas de sábado, a lembrar antigas promessas de estar tão distante, mas ver-se no mesmo lugar, a vergonha grita desaforos maldosos e doloridos.
Como podem fazer falta dias sem dormir, noites no hospital e telefonemas desesperados?
Na realidade, faz falta o consolo, o meu, o teu e os nossos. Faz falta o ombro dividido, não importa o porquê.
Sim, como diz outro Machado de maior calão:
"Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"

Quem tem amigos de verdade pode sorrir para o mundo, mesmo estando sozinho.
Apenas, fica difícil de vez em quando! Ainda mais quando aperta a saudade...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

... assim tão Martha Medeiros!

com uma ilustração de Bebel para dar o clima certo

Domingo, dia de ler jornal com calma e, como muitas vezes ocorre, ser brindada com uma comunhão de sentimentos com a Martha Medeiros.
Não sou sua fã incondicional, tanto que ser Martha Medeiros é uma brincadeira, uma expressão que eu cunhei quando a perfeição na imperfeição parece exagerada, algo parecido com o velho "c.i.g." (culta+inteligente+gostosa).


Mas, retornando ao jornal de hoje, seu texto, O sempre no nunca, inicia assim:

"Vivemos num mundo de variados prazeres mundanos, sensoriais, transcendetais, mas poucos tão valiosos quanto ler um livro bom."


Ler...
Verdadeiramente - ler, para mim, vai além do prazer: beira o vício...
Nesses dias mais leves, leio tão intensamente que apenas me faltam mais livros.
E, certamente, vou dar um jeito de conseguir esse "A elegância do Ouriço", de Muriel Barbery, que Martha comenta aqui.

Entretanto, foi o final de sua crônica que comprou minha alma hoje:


"(...) Diante da do dilacerante, o que buscar? O belo. Diante do impossível, diante de uma vida inútil, diante daquilo que não aconteceu nem acontecerá, o que nos compensará? Um único instante sublime. Em todo 'não', há um filete de 'sim'. Em toda descrença, há uma possibilidade de certeza. É o que a autora chama no livro de 'o sempre no nunca'. Basta a lembrança de um piano que tocava em determinado momento de angústia, basta um pedaço de pano colorido que se destacou na hora de reunir as roupas de um morto, basta uma frase especial de uma amiga quando a noite prometia ser um suplício, e nossa desilusão eterna se atenua. Para a maioria das pessoas, os dias correm e parece que os sonhos nunca se realizarão. Nunca. Mas em meio a esse nunca, há de ter um pedacinho afetivo de sempre. Aquela lembrança, aquela foto, aquela música, aquele instante que ficou alheio ao tempo, imortal. O sempre no nunca. Há em tudo, basta um pouco de doçura para reconhecê-lo."


... em meio a esse nunca, há de ter um pedacinho afetivo de sempre!


Como não tê-lo, me pergunto?
Todo dia encontro aquela letra tão familiar escrita num caderno, num papel perdido. Aquele garranchinho de canhoto, por mais bonitinha que sua letra fosse... às vezes consigo sorrir, às vezes dói (apenas quando a encontro planos escritos, planos que nunca foram postos em prática).

Daquelas letras vêm músicas, frases carinhosas ou críticas, cores que foram embora no vento com ela. Mas a lembrança sempre está aqui, o sempre no nunca...

E é essa lembrança que mais me cobra ir em frente e fazer tanto, tantas coisas das quais nem tenho coragem de pensar maior parte do tempo. Assim como sei que já teria lhe tirado a paciência há muito tempo e que algumas de minhas escolhas seriam severamente dissecadas em busca de covardias arraigadas.

Existem sonhos que jamais serão realizados, mas às vezes existe também a realização deles em coisas tão pequenininhas e insignificantes que deixamos passar despercebidas.
Talvez um nunca no sempre, algo inesperado naquilo que conhecemos de cabo a rabo. Algo que nos guia inconscientemente, que nos ajuda a escolher e realizar no próprio irrealizado.
Certamente, seríamos mais felizes se o víssemos com mais freqüência!



sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda Quintana

Sem Título - Alice Soares


Algum dia na vida, todos já sentimos:
rolar por dentro pequenos pedacinhos...
aquele cristal cordial totalmente estraçalhado.
Depois da primeira lascada, a antiga intregridade
nunca mais volta e, aparentemente, essa é que dói mais.

Ficamos tão impressionados com essa dor
que tudo a nossa volta beira à insignificância.

Até o dia que finalmente ele chega aos pedacinhos...
Aí a dor começa a parecer piada!

E com a coragem renovada,
aquela de quem já pode peder mais nada,
seguimos em frente prontos pra mais uma indiada:
amar de novo, amar sempre e ainda agradecer por isso!



A RUA DOS CATAVENTOS
Mario Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror!
Voejai!Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!


Apenas mais...

Hotel Rodoviária - André Venzon
Porto Alegre - 2004 Foto : Igor Sperotto


I
Mario Quintana - A Rua dos Cataventos

Escrevo diante da janela aberta.

Minha caneta é cor das venezianas:Verde!...
E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!



Mais um do Quintana...

Cidade Vazia V - Paulo Amaral


O MAPA
Mario Quintana - Apontamentos de História Sobrenatural

Olho o mapa da cidade

Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)


Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

Mais um do Mário...

OS POEMAS
Mario Quintana - Esconderijos do Tempo


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Do Contra...


Mulheres com pássaros - Milton Dacosta

POEMINHA DO CONTRA
De Mário Quintana

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


Assim me sinto: andando devagar, bem devagarinho... quase sendo derrubada por essa turba, que anda pra frente de olhos fixados no chão ou no relógio, mas nunca no horizonte.

Posso parecer do contra o tempo todo, posso parecer louca ou desocupada e despreocupada, mas escolho ser passarinho.