quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

De Paulo Francis...

A família é uma prisão, de portas abertas, mas o preso não quer fugir.
(em Filhas do Segundo Sexo)

sábado, 8 de novembro de 2008

Queridos...

Flutuam no passado
Vultos perdidos
Mas jamais esquecidos

Cada vulto um rosto
Um rosto amigo
Que nunca será essquecido

No passado, a companhia, a união
Laços feitos com nós cegos.
Vultos perdidos
Que ficaram para trás

O tempo passou,
Amigos queridos
Jamais esquecidos.

(poema de minha autoria, nos idos de 1995... no livro da turma do Científico:
Este livro não tem título... apenas sentimentos!)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Fernando Pessoa ...

Realidade

De Poemas de Álvaro de Campos


Sim, passava aqui frequentemente há vinte anos...
Nada está mudado — ou, pelo menos, não dou por isto —
Nesta localidade da cidade ...
Há vinte anos!...
O que eu era então! Ora, era outro...
Há vinte anos, e as casas não sabem de nada...
Vinte anos inúteis (e sei lá se o foram!
Sei eu o que é útil ou inútil?)...
Vinte anos perdidos (mas o que seria ganhá-los?)
Tento reconstruir na minha imaginação
Quem eu era e como era quando por aqui passava
Há vinte anos...
Não me lembro, não me posso lembrar.
O outro que aqui passava, então,
Se existisse hoje, talvez se lembrasse...
Há tanta personagem de romance que conheço melhor por dentro
De que esse eu-mesmo que há vinte anos passava por aqui!
Sim, o mistério do tempo.
Sim, o não se saber nada,
Sim, o termos todos nascido a bordo
Sim, sim, tudo isso, ou outra forma de o dizer...
Daquela janela do segundo andar, ainda idêntica a si mesma,
Debruçava-se então uma rapariga mais velha que eu, mais
lembradamente de azul.
Hoje, se calhar, está o quê?
Podemos imaginar tudo do que nada sabemos.
Estou parado físisca e moralmente: não quero imaginar nada...
Houve um dia em que subi esta rua pensando alegremente no futuro,
Pois Deus dá licença que o que não existe seja fortemente iluminado,
Hoje, descendo esta rua, nem no passado penso alegremente.
Quando muito, nem penso...
Tenho a impressão que as duas figuras se cruzaram na rua, nem então nem agora,
Mas aqui mesmo, sem tempo a perturbar o cruzamento.
Olhamos indiferentemente um para o outro.
E eu o antigo lá subi a rua imaginando um futuro girassol,
E eu o moderno lá desci a rua não imaginando nada.
Talvez isso realmente se desse...
Verdadeiramente se desse...
Sim, carnalmente se desse...
Sim, talvez...

"uma aprendizagem ou o livro dos prazeres"

Com a palavra, Clarice Lispector:
A mulher não está sabendo: mas está cumprindo uma coragem. Com a praia vazia nessa hora, ela não tem o exemplo de outros humanos que transformam a entrada no mar em simples jogo leviano de viver. Lóri está sozinha. O mar salgado não é sozinho porque é salgado e grande, e isso é uma realização da Natureza. A coragem de Lóri é a de, não se conhecendo, no entanto prosseguir, e agir sem se conhecer exige coragem.
Vai entrando. A água salgadíssima é de um frio que lhe arrepia e agride em ritual as pernas.
Mas uma alegria fatal — a alegria é uma fatalidade — já a tomou, embora nem lhe ocorra sorrir. Pelo contrário, está muito séria. O cheiro é de uma maresia tonteante que a desperta de seu mais adormecido sono secular.
E agora está alerta, mesmo sem pensar, como um pescador está alerta sem pensar. A mulher é agora uma compacta e uma leve e uma aguda — e abre caminho na gelidez que, líquida, se opõe a ela, e no entanto a deixa entrar, como no amor em que a oposição pode ser um pedido secreto.
O caminho lento aumenta sua coragem secreta — e de repente ela se deixa cobrir pela primeira onda! O sal, o iodo, tudo líquido deixam-na por uns instantes cega, toda escorrendo — espantada de pé, fertilizada.
Agora que o corpo todo está molhado e dos cabelos escorre água, agora o frio se transforma em frígido. Avançando, ela abre as águas do mundo pelo meio. Já não precisa de coragem, agora já é antiga no ritual retomado que abandonara há milênios. Abaixa a cabeça dentro do brilho do mar, e retira uma cabeleira que sai escorrendo toda sobre os olhos salgados que ardem. Brinca com a mão na água, pausada, os cabelos ao sol quase imediatamente já estão se endurecendo de sal. Com a concha das mãos e com a altivez dos que nunca darão explicação nem a eles mesmos: com a concha das mãos cheias deágua, bebe-a em goles grandes, bons para a saúde de um corpo.
E era isso o que estava lhe faltando: o mar por dentro como o líquido espesso de um homem.
Agora ela está toda igual a si mesma. A garganta alimentada se constringe pelo sal, os olhos avermelham-se pelo sal que seca, as ondas lhe batem e voltam, lhe batem e voltam pois ela é um anteparo compacto.
Mergulha de novo, de novo bebe mais água, agora sem sofreguidão pois já conhece e já tem um ritmo de vida no mar. Ela é a amante que não teme pois que sabe que terá tudo de novo.
O sol se abre mais e arrepia-a ao secá-la, ela mergulha de novo: está cada vez menos sôfrega e menos aguda. Agora sabe o que quer: quer ficar de pé parada no mar.
Assim fica, pois. Como contra os costados de um navio, a água bate, volta, bate, volta. A mulher não recebe transmissões nem transmite. Não precisa de comunicação.
Depois caminha dentro da água de volta à praia, e as ondas empurram-na suavemente ajudando-a a sair. Não está caminhando sobre as águas — ah nunca faria isso depois que há milênios já haviam andado sobre as águas — mas ninguém lhe tira isso: caminhar dentro das águas. Às vezes o mar lhe opõe resistência à sua saída puxando-a com força para trás, mas então a proa da mulher avança um pouco mais dura e áspera.
E agora pisa na areia. Sabe que está brilhando de água, e sal e sol. Mesmo que o esqueça, nunca poderá perder tudo isso. De algum modo obscuro seus cabelos escorridos são de náufrago. Porque sabe — sabe que fez um perigo. Um perigo tão antigo quanto o ser humano.
Lóri passara da religião de sua infância para uma não-religião e agora passara para algo mais amplo: chegara ao ponto de acreditar num Deus tão vasto que ele era o mundo com suas galáxias: isso ela vira no dia anterior ao entrar no mar deserto sozinha.
E por causa da vastidão impessoal era um Deus para o qual não se podia implorar: podia-se era agregar-se a ele e ser grande também.
Em compensação, já que não podia na dor deixar de implorar, aprendera de um dia para outro a implorar misericórdia e força a si mesma, pois ela não era tão vasta nem impessoal nem inalcançável.

Trecho longo, eu sei. Mas não havia como ser diferente. Apenas Clarice para explicar como se chega a esse ponto onde Deus é tudo, tanto que quase não mais existe como si mesmo. Faz parte de nós e nos deixa na mão: nunca mais será aquele ser que escuta todas as picuinhas e julga-as uma a uma, abençoa boas ações e distribui justiça no mundo. Não. Esse Deus já não existe mais. E isso não nasceu de uma decepção, de uma cisma. Nasceu do abrir os olhos para o mundo e entender... o quê eu entendi ainda é complicado demais para se fazer compreender!

Só o mar pode. Só o mar é imenso o suficiente para participar dessa epifania. Mesmo que eu não o veja há tanto tempo - só o horizonte, o som e o cheiro da praia podem ser cenário para tal compreensão. Apenas o sem fim completamente presente para preencher tantas lacunas e esperançar um momento de entendimento. Saudades do mar, do Oceano afinal, porque apenas o Atlântico já dividiu comigo esse encontro de minha alma e meus anseios. Quando o encontrarei de novo?!

Mantenaint, je suis...

sábado, 1 de novembro de 2008

assuntos de domingo






















Repito-me: após ler a Zero Hora de Domingo... Hoje, cheia de Nada na cabeça.
Dia de Finados - coincidentemente, só se fala em Nadismo, o movimento de Marcelo Bohrer. Mas quem consegue realmente não fazer absolutamente nada?
Talvez eu devesse começar, afinal a cabeça sempre cheia com algo as vezes sufoca mais que uma agenda cheia... Entretanto, de certa forma, o Nada já faz parte de minha vida há lagum tempo. E aqui não estou relembrando nenhum trocadilho meu antigo, estou, como Moacyr Scliar, falando do Nada Absoluto que ronda nossa existência ou de tudo que esse nada pode significar... o fim.
Existe algo além da vida que conhecemos? Após a morte do corpo? Perguntas sem respostas e sempre presentes. Não sou a pessoa correta para abordar esse assunto, ainda mais flertando de perto com o ateísmo. Mas já me deparei com longas tardes no Clínicas destrinchando as diversas possibilidades do fim.

Com tudo o que passou, só sei que existe a saudade e que dessa não nos livramos, até o nosso próprio fim. Essa presença constante nos pensamentos que embota muitas cores e colore tantos cinzas... hoje em dia, tenho mais vontade de chorar por nada, que antes.
Ainda assim, vale mais a pena a mente cheia com doloridas lembranças do que um coração onde reine um Nada Absoluto...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Palavras de Fernando Pessoa

Às Vezes
De Poemas de Álvaro de Campos

Às vezes tenho idéias felizes,
Idéias subitamente felizes, em idéias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Por que escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...









Pobres de nós, seres açoitados pelas nossas próprias palavras,
A nós tão superiores...
Porque não fazemos delas nossas almas escravas?
Para sempre nos acreditarmos inferiores...

sábado, 20 de setembro de 2008

Saudades, amizades e solidão...


BONS AMIGOS
Machado de Assis

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!
Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!
Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!
Benditos sejam os amiigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!
Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!
Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!

(Desculpe, precisei, não resisti em copiar teu orkut KK...)



A distância é cruel - instiga nossa mente a devaneios dolorosos, sofrimentos imaginados e dores próximas. Como não sentire-se solitário, mesmo sabendo que quem tem amigos nunca está só!?
Nas longas vigilias, sem ninguém para ouvir teu desabafo, sem um lar para chamar de teu, a idéia de solidão vira a companheira mais certa.
Nas tardes ensolaradas de sábado, a lembrar antigas promessas de estar tão distante, mas ver-se no mesmo lugar, a vergonha grita desaforos maldosos e doloridos.
Como podem fazer falta dias sem dormir, noites no hospital e telefonemas desesperados?
Na realidade, faz falta o consolo, o meu, o teu e os nossos. Faz falta o ombro dividido, não importa o porquê.
Sim, como diz outro Machado de maior calão:
"Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas!"

Quem tem amigos de verdade pode sorrir para o mundo, mesmo estando sozinho.
Apenas, fica difícil de vez em quando! Ainda mais quando aperta a saudade...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

domingo, 14 de setembro de 2008

... assim tão Martha Medeiros!

com uma ilustração de Bebel para dar o clima certo

Domingo, dia de ler jornal com calma e, como muitas vezes ocorre, ser brindada com uma comunhão de sentimentos com a Martha Medeiros.
Não sou sua fã incondicional, tanto que ser Martha Medeiros é uma brincadeira, uma expressão que eu cunhei quando a perfeição na imperfeição parece exagerada, algo parecido com o velho "c.i.g." (culta+inteligente+gostosa).


Mas, retornando ao jornal de hoje, seu texto, O sempre no nunca, inicia assim:

"Vivemos num mundo de variados prazeres mundanos, sensoriais, transcendetais, mas poucos tão valiosos quanto ler um livro bom."


Ler...
Verdadeiramente - ler, para mim, vai além do prazer: beira o vício...
Nesses dias mais leves, leio tão intensamente que apenas me faltam mais livros.
E, certamente, vou dar um jeito de conseguir esse "A elegância do Ouriço", de Muriel Barbery, que Martha comenta aqui.

Entretanto, foi o final de sua crônica que comprou minha alma hoje:


"(...) Diante da do dilacerante, o que buscar? O belo. Diante do impossível, diante de uma vida inútil, diante daquilo que não aconteceu nem acontecerá, o que nos compensará? Um único instante sublime. Em todo 'não', há um filete de 'sim'. Em toda descrença, há uma possibilidade de certeza. É o que a autora chama no livro de 'o sempre no nunca'. Basta a lembrança de um piano que tocava em determinado momento de angústia, basta um pedaço de pano colorido que se destacou na hora de reunir as roupas de um morto, basta uma frase especial de uma amiga quando a noite prometia ser um suplício, e nossa desilusão eterna se atenua. Para a maioria das pessoas, os dias correm e parece que os sonhos nunca se realizarão. Nunca. Mas em meio a esse nunca, há de ter um pedacinho afetivo de sempre. Aquela lembrança, aquela foto, aquela música, aquele instante que ficou alheio ao tempo, imortal. O sempre no nunca. Há em tudo, basta um pouco de doçura para reconhecê-lo."


... em meio a esse nunca, há de ter um pedacinho afetivo de sempre!


Como não tê-lo, me pergunto?
Todo dia encontro aquela letra tão familiar escrita num caderno, num papel perdido. Aquele garranchinho de canhoto, por mais bonitinha que sua letra fosse... às vezes consigo sorrir, às vezes dói (apenas quando a encontro planos escritos, planos que nunca foram postos em prática).

Daquelas letras vêm músicas, frases carinhosas ou críticas, cores que foram embora no vento com ela. Mas a lembrança sempre está aqui, o sempre no nunca...

E é essa lembrança que mais me cobra ir em frente e fazer tanto, tantas coisas das quais nem tenho coragem de pensar maior parte do tempo. Assim como sei que já teria lhe tirado a paciência há muito tempo e que algumas de minhas escolhas seriam severamente dissecadas em busca de covardias arraigadas.

Existem sonhos que jamais serão realizados, mas às vezes existe também a realização deles em coisas tão pequenininhas e insignificantes que deixamos passar despercebidas.
Talvez um nunca no sempre, algo inesperado naquilo que conhecemos de cabo a rabo. Algo que nos guia inconscientemente, que nos ajuda a escolher e realizar no próprio irrealizado.
Certamente, seríamos mais felizes se o víssemos com mais freqüência!



sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Ainda Quintana

Sem Título - Alice Soares


Algum dia na vida, todos já sentimos:
rolar por dentro pequenos pedacinhos...
aquele cristal cordial totalmente estraçalhado.
Depois da primeira lascada, a antiga intregridade
nunca mais volta e, aparentemente, essa é que dói mais.

Ficamos tão impressionados com essa dor
que tudo a nossa volta beira à insignificância.

Até o dia que finalmente ele chega aos pedacinhos...
Aí a dor começa a parecer piada!

E com a coragem renovada,
aquela de quem já pode peder mais nada,
seguimos em frente prontos pra mais uma indiada:
amar de novo, amar sempre e ainda agradecer por isso!



A RUA DOS CATAVENTOS
Mario Quintana

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror!
Voejai!Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!


Apenas mais...

Hotel Rodoviária - André Venzon
Porto Alegre - 2004 Foto : Igor Sperotto


I
Mario Quintana - A Rua dos Cataventos

Escrevo diante da janela aberta.

Minha caneta é cor das venezianas:Verde!...
E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!



Mais um do Quintana...

Cidade Vazia V - Paulo Amaral


O MAPA
Mario Quintana - Apontamentos de História Sobrenatural

Olho o mapa da cidade

Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse o meu corpo!)


Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar

Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

Mais um do Mário...

OS POEMAS
Mario Quintana - Esconderijos do Tempo


Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Do Contra...


Mulheres com pássaros - Milton Dacosta

POEMINHA DO CONTRA
De Mário Quintana

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


Assim me sinto: andando devagar, bem devagarinho... quase sendo derrubada por essa turba, que anda pra frente de olhos fixados no chão ou no relógio, mas nunca no horizonte.

Posso parecer do contra o tempo todo, posso parecer louca ou desocupada e despreocupada, mas escolho ser passarinho.

sábado, 30 de agosto de 2008

Quem não tem colírio, usa óculos escuros...

" As linhas do edifícios parecem-lhe de uma clareza impecável; sua disposição ao longo da avenida, bem mais nítida que de costume. A luz declinante tinge as fachadas de tons alaranjados. Passou por ali dezenas de vezes, mas agora a visão daquelas construções inabaláveis lhe faz bem. Assim iluminadas, as paredes não são mais barreiras, são espelhos que só refletem os melhores ânimos. Um dia teve óculos escuros com lentes num tom laranja. Deixavam o mundo mais bonito. Usava-os sempre que podia, relutava em tirá-los a cada vez. Após algumas semanas de deleite, perdeu-os, sem saber onde, nem como. Desde então, teve outros óculos, claro, mas nenhum deles produziu o efeito desejado. Daí concluiu existir uma tonalidade específica para cada par de olhos. A cor é uma absorção, o que resta da luz depois de subtraída uma parte de suas ondas. Laranja = luz - azul, aritmética básica. A mistura de todas as cores é o branco. Superposição extrema, densidade absoluta. Para ela, conviria filtrar certo raio azul que torna o mundo um pouco frio de mais. Mas perder aqueles óculos não foi de todo ruim. Se os tivesse usado permanentemente, teria ficado habituada. A repetição teria diminuído o contraste." Céline Curiol in Voz sem saída

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

What a diference a day makes

What a difference a day made
Que diferença um dia fez
Twenty-four little hours

Vinte e quatro pequenas horas
Brought the sun and the flowers
Trouxe o sol e as flores
Where there used to be rain
Onde costumava haver chuva
My yesterday was blue, dear
Meu ontem foi triste, querido
Today I'm part of you, dear
Hoje sou parte de você, querido
My lonely nights are through, dear
Minhas noites solitárias estão terminadas, querido
Since you said you were mine
Desde que você me disse que era meu
What a difference a day makes
Que diferença um dia faz
There's a rainbow before me
Existe um arco-íris diante de mim
Skies above can't be stormy
O céu acima não pode ser tempestuoso
Since that moment of bliss, that thrilling kiss
Desde aquele momento de felicidade, aquele beijo emocionante
It's heaven when you find romance on your menu
É céu quando você encontra romance em sua lista
What a difference a day made
Que diferença um dia fez
And the difference is you
E a diferença é você
What a difference a day makes
Que diferença um dia faz
There's a rainbow before me
Existe um arco-íris diante de mim
Skies above can't be stormy
O céu acima não pode ser tempestuoso
Since that moment of bliss, that thrilling kiss
Desde aquele momento de felicidade, aquele beijo emocionante
It's heaven when you find romance on your menu
É céu quando você encontra romance em sua lista
What a difference a day makes
Que diferença um dia faz
And the difference is you
E a diferença é você

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

From "ioga para quem não está nem aí"

"Somewhere are places where we have really been
dear spaces
Of our deeds and faces, scenes we remember
As unchanging because then we changed..."
Auden - In transit

What a diference...

Quantas vezes me repeti: "onde me perdi? me quero de volta!"?
Jamais me acharei de volta, nem sequer me perdi.
Apenas mudei. Mudei e não quis aceitar. Mudei e não quis ver.
Cada vez que sofri com essa perda, camuflava a mudança que não queria.
Nos dias em que as afirmações e os temores não se diferenciavam, eu via segurança no desespero.
Porque hoje já sou muito diferente do que era ainda hoje, há poucos segundos.
Imagine, então, o quanto mudei nesses anos em que não quis aceitar a mudança, em que queria apenas estar no mesmo lugar, acalentando sonhos partidos, visualizando realidades disformes e fazendo um esforço titânico para continuar sendo algo que há muito eu já não era.
A diferença, talvez, more em poder contar consigo mesmo.